Projeto “Bate-Papo” do TCM recebe Jotabê Medeiros, autor da biografia de Belchior Notícias

02/10/2018 17:00 Atualização

O auditório da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM) recebeu, na sexta-feira (28/09), o jornalista e escritor Jotabê Medeiros, editor da revista Carta Capital, dentro do Projeto do TCM “Bate-Papo com o Autor”. Ele foi o convidado especial para falar sobre seu livro lançado recentemente, “Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano”, com a biografia desse músico e compositor. Participaram da conversa o jornalista e professor Moacir Assunção e o assessor do Tribunal, Sebastião Nascimento.

O “Bate-Papo” contou ainda com a presença dos alunos da escola Professor Francisco Pereira de Souza, de São Miguel Paulista e do coral do TCM, sob a regência do maestro Willian Guedes. O coro apresentou durante o evento três músicas de sucesso de Belchior, como “A Palo Seco”, “Comentário a respeito de John” e “Tudo Outra Vez”.

Belchior foi um grande cantor brasileiro que alcançou o sucesso a partir da década de 70. Natural de Sobral (CE), ele emplacou sucessos populares da MPB como “Alucinação”, “Mucuripe”, “Como Nossos Pais”, “Medo de Avião”, “Apenas um Rapaz Latino-Americano” – que deu nome à sua biografia -, entre tantos outros. Sua trajetória controversa ganhou ares de mistério ao realizar uma espécie de “autoexílio” a partir de 2007, deixando para trás bens pessoais, dívidas, shows e até mesmo sua família. O cantor cearense morreu em abril de 2017, em Santa Cruz do Sul (RS).

Jotabê assina seu segundo livro (o primeiro foi lançado em 2014, “O Bisbilhoteiro das Galáxias – No Lado B da cultura Pop”) e sua primeira biografia ao longo da carreira de 32 anos na área de jornalismo cultural, além de ter sido correspondente internacional em Nova Iorque (EUA) por dois anos.

Ele abriu o bate-papo contando o porquê de escolher Belchior para fazer essa biografia, lançada em agosto de 2017: “É uma paixão antiga. Ele sumiu em 2007 e reapareceu morto em 2017 no Rio Grande do Sul. Neste período, criou-se uma mitologia em torno da figura dele, quem não o conhecia foi procurar saber quem era esse personagem. Não existia quase nada de interessante sobre ele, assim, surgiu essa ideia”, contou Medeiros.

O autor falou também sobre as influências de João Cabral de Melo Neto nas composições de Belchior, sobretudo na música “Na Hora do Almoço”, que rendeu a ele o primeiro lugar no IV Festival Universitário da MPB de 1971, e de sutilezas críticas que o cantor colocava em suas letras. “Ele foi sempre conectado com política, teve nove músicas censuradas no disco Alucinação (1976), considerado uma obra-prima por qualquer crítico musical brasileiro. A complexidade de seus discos, esse desafiar constante que ele se propôs a fazer, é fundamental para compreender o período que vivíamos nos anos 70”, revelou Medeiros.

Jotabê ressaltou o interesse dos jovens em conhecer a obra de Belchior, já que a modernidade presente em suas músicas desperta o fascínio desse público. “As canções foram escritas há muito tempo, mas ele sabe com quem fala até hoje. Algumas delas retratam essa angústia adolescente, parece que está sempre conversando com esse grupo, reflete um sentimento de impotência, incompreensão da sociedade com a natureza do jovem”, afirmou.

A ruptura radical que Belchior realizou ao largar fãs, dinheiro, palco, os discos, para querer viver a vida de outra forma também foi um fator intrigante para o autor escrever a biografia. A versatilidade do cantor cearense ao ver seu repertório passar por vários estilos musicais como o rock, folk, country, blues e o reggae.

Durante o bate-papo, o autor falou sobre os motivos que levaram Belchior a sumir do convívio com todos. “Acredito que esse sumiço tenha uma natureza mais filosófica, ele não via muita perspectiva na dialética da vida cotidiana como artista, não tinha mais desafios para ele”, destacou. E, por isso, esse drama moderno que foi a história do cantor torna-se interessante e, por mais que o autor faça reportagens sobre diversos personagens da cultura pop, Medeiros afirma que não há nada parecido com ele.

O autor falou também da importância de Elis Regina na vida e na ascensão da carreira de Belchior. A cantora era considerada madrinha do músico ao gravar sucessos como “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”. “No momento em que ele estava na pior, vagando por São Paulo, ela o conheceu no estúdio de Vinícius de Moraes e o chamou para um almoço para mostrar suas composições. Ela canta essas duas canções no show ‘Falso Brilhante’ e foi um sucesso, com o público aplaudindo de pé. Desse momento em diante, a carreira dele decolou”.

Ao final do bate-papo, o autor autografou alguns exemplares da sua biografia e tirou fotos com o público que acompanhou o evento.